sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Mulheres na política: cobertura jornalística privilegia campanhas eleitorais e esquece programas de governo e legislação voltados para a igualdade de gênero


Estudo pioneiro revela o comportamento de 16 jornais de todas as regiões brasileiras na cobertura do tema Mulher, Poder e Decisão. A análise aponta que o noticiário é dominado pela disputa eleitoral e não debate políticas públicas adequadamente.

O fato de que duas candidatas competitivas – Dilma Rousseff e Marina Silva – pela primeira vez participavam de uma corrida para a Presidência da República não foi suficiente para que a imprensa brasileira aprofundasse o debate sobre temas vinculados à agenda da equidade de gênero, como a participação feminina na disputa partidária e as políticas públicas de promoção dos direitos das mulheres.

Os números são do estudo “Análise da Cobertura da Imprensa sobre Mulheres na Política e Espaços de Poder”: em 2010, 41% das matérias avaliadas tinham como foco as eleições; outro tema recorrente foram as lideranças políticas femininas no Brasil e no exterior.

A pesquisa integra uma série de levantamentos realizados pela ANDI – Comunicação e Direitos e pelo Instituto Patrícia Galvão, no âmbito de projeto desenvolvido com o Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo Federal.

Cobertura ignora políticas públicas

As propostas de políticas e programas de governo voltados para as mulheres praticamente não aparecem no noticiário. Dos textos analisados, menos de 2% mencionam ações do poder público, como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres ou o Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

Da mesma forma, os veículos deixaram em segundo plano assuntos como a destinação de 5% dos recursos do fundo partidário para promoção da participação das mulheres na política e a necessidade dos partidos preencherem a cota mínima de 30% de candidatos/as para cada sexo.

Autoridades são as principais fontes de informação 

Outro indicativo do interesse concentrado na disputa eleitoral está na escolha das fontes de informação. Representantes dos poderes públicos (48,57%) – com destaque para o Executivo e o Legislativo – foram os mais procurados pelos jornais pesquisados.

Embora o tema da participação feminina envolva polêmicas, a imprensa não primou pela multiplicidade de pontos de vista nesse noticiário: não mais do que 15% dos textos trazem opiniões discordantes.

Candidatas são julgadas pelo aspecto físico

A referência a aspectos físicos está presente em 14% do material estudado. São principalmente menções a cabelo, roupa, peso, maquiagem e cirurgia plástica das candidatas.

Já informações sobre a vida privada das candidatas, como estado civil, filhos/netos e prendas domésticas aparecem em 31,5% da cobertura.
Insuficiências exclusivamente relacionadas às candidaturas femininas são mencionadas em 20% dos textos. Apenas 4% apontam aspectos negativos de homens e mulheres na mesma notícia.

Seminário irá debater visibilidade da mulher na mídia

Ao longo dos próximos meses, a ANDI, o Instituto Patrícia Galvão e o Observatório Brasil da Igualdade de Gênero irão divulgar mais três pesquisas com foco na abordagem da imprensa sobre questões de gênero. Os temas são Mulher e Trabalho, Mulher e Violência, e a posse da presidente Dilma Rousseff.

Os resultados completos serão debatidos no seminário Imprensa e Agenda de Direitos das Mulheres – uma análise das tendências da cobertura jornalística, organizado pela Secretária de Políticas para as Mulheres. O evento reunirá em Brasília, no dia 3 de outubro, diversos profissionais de imprensa e especialistas na agenda de equidade de gênero.
 
ANDI lança minisite dedicado à mídia e equidade de gênero
A divulgação dos dados da “Análise da Cobertura da Imprensa sobre Mulheres na Política e Espaços de Poder” coincide também com o lançamento do minisite Mulheres na Imprensa. Integrado ao portal da ANDI, o novo espaço oferece acesso a análises de mídia, notícias atualizadas, banco de fontes de informação com especialistas e entidades ligadas ao assunto, bibliografia e uma relação com mais de 100 leis.

A ferramenta pode ser um importante estímulo para o aprofundamento e diversificação da cobertura do tema.

FONTE ADAPTADA: http://www.sepm.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2011/08/mulheres-na-politica-cobertura-jornalistica-privilegia-campanhas-eleitorais-e-esquece-programas-de-governo-e-legislacao-voltados-para-a-igualdade-de-genero

 

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