Crônica da Professora Rita Ramos.
Nasci menina... Todas nascemos meninas. Verdadeiras princesas...
Quando nascem as flores, algo muda nesse nosso universo. Deve ser a diferença das cores, das nuances, dos perfumes. Quando nascem as flores, esperanças prevalecem... Quando nascem as flores, brotam também mais amores, sonhos, desejos...
Cresci menina... toda menininha cresce! Meu pai quase não me via... trabalhava muito!
Quase não me via minha mãe... a lida da casa e os afazeres com meus irmão! Correria dessa vida... e a flor crescia.
Cresci mocinha... é tão bom ser mocinha!
Mas agora alguém me vê! De dentro de casa, sabe meus gostos e desgostos... conhece meu riso e meu choro... vive conosco!
Cresci mocinha forçada... agredida, violada pelo tio a quem amava e confiava!
(continua)
Confiavam nele minha mãe, meu pai... meus irmãos!
“NÃO FALE NADA PRA TUA MÃE!” dizia aquele que me viu nascer...
“ FIQUE QUIETA!” mandava aquele que meus pais acolheram...
“ PARE DE CHORAR!” gritava aquele que devia ajudar a me proteger ...
“EU MATO TODA A TUA FAMÍLIA!” sussurrava aquele que deveria me ensinar a lutar... e também a vencer...
Nasci menina... forçada fui mulher... abusada fui desconstruída...
Preciso contar a minha mãe... ela vai me entender, me defender, se comover... Claro! Conto hoje a minha mãe!
Nasci filha... ganhei colo, ganhei peito... ganhei vida...
Mãe, preciso te contar um segredo!
- Segredo, diz ela... não tenho tempo!
Mãe, eu preciso falar com você sobre algo que me incomoda!
- O que você sabe da vida, menina! Nada te incomoda!
Mãe, preciso dizer o que ele faz comigo!
_ Ele faz o quê?
Me toca
Me beija
Me abraça
Me machuca
Grita comigo
Me empurra
Me obriga
MÃE, ME AJUDE!
_ Quem é ele, ela pergunta!
Não sei como dizer....
Existem momentos em que as flores desbotam... murcham e muitas morrem. Por vários fatores. Morrer, em muitas situações é o melhor.
Mãe, meu tio, teu irmão... esse que mora aqui...
NÃO ACREDITO, SUA MALUCA! SEU TIO FAZ TUDO POR NOSSA FAMÍLIA...
Nasci menina, moça e mulher...
Hoje não acredito que tenha nascido filha! Nem sobrinha...
Mas nasci flor! Flor pra sonhar, flor pra sorrir, flor pra viver, amar, lutar, gritar!
ME AJUDEM...ME Ajudem...
Ele anda me olhando de forma desconfiada...
Será que percebeu-se acuado?
Tenho escapado de seu olhar predador... Descobri forças para dizer NÃO!
Não posso contar com minha família, mesmo com todas as “dicas” não conseguiram ler nas entrelinhas meu pedido de socorro!
Flores são delicadas... mas nasci menina-flor corajosa! Uma coragem que supera meus medos e tragédias...
O sono me derruba... ouço sussurros, barulhos que me trazem à realidade... me fazem despertar.
Levanto-me lentamente... procuro pelos sons que são sorrateiros!
Preciso parar de sofrer e tomar uma atitude. As flores resistem às tempestades...
Encontro minha irmã e meu tio... a menina-flor tem 7 anos! GRITO...GRITO MUITO...
Denuncio... anuncio a angústia... a tristeza... com ela não... COM ELA NÃO!
Minha mãe aparece! Vê a situação... o predador é afastado, preso, julgado...CULPADO!
Agora sou só uma flor... uma flor na Primavera. Começo a ver a vida com novas cores, novos brotos, esperança... Afinal É Primavera... e eu uma renovada flor!
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