Kety
C. De March
Ter um companheiro para
a vida tornou-se uma obrigatoriedade social para a felicidade feminina. A plena
realização de muitas mulheres foi construída em torno da capacidade das mesmas
de adquirirem um marido. O medo era serem conhecidas pelo estigma de solteironas.
Desde crianças essas mulheres foram educadas a serem boas esposas e melhores
mães, a cuidarem com afinco dos afazeres domésticos e da alimentação familiar.
Modelos de comportamento lhes foram ensinados também em relação ao espaço
público, ao tipo de conversa que poderia ser empreendida e com quem poderiam
conversar e, assim, eram escolhidas para elas também as companhias consideradas
adequadas. Ao corpo feminino foram
impostas proibições: ele não poderia ser mostrado e deveria ser sempre atraente
apenas ao marido. Essa atração era garantida a partir de padrões de beleza
impostos pela mídia e pela sociedade de consumo.
Após o casamento, união
estável, ou mesmo antes disso, nas relações amorosas construídas com homens em
quem acreditavam poder confiar, muitas dessas mulheres passam a vivenciar
experiências que em nada lhes lembram os contos de fadas que ouviam na infância
em que príncipes as tomavam em seus braços e viviam felizes para sempre. O
ambiente doméstico, pela privacidade que permite, muitas vezes se torna o
espaço do pesadelo. Ali mulheres são submetidas às mais variadas formas de
violência por parte de quem deveria ser seu companheiro. Muitas delas sofrem
violência física, mas, por desconhecimento da lei, por medo de retaliações ou
por considerar que não haja uma forma de proteção segura, permanecem no
convívio com o agressor. Algumas delas não resistem às agressões sendo mortas
pelo companheiro. Outras nem mesmo conseguem identificar que são vítimas de
alguma forma de violência. São mulheres que cotidianamente são humilhadas pelos
companheiros, obrigadas a manter relações sexuais e desprovidas de direitos
sobre os bens do casal. Sofrem, portanto, violência psicológica, sexual e
financeira.