terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Gênero e educação escolar

*Artigo publicado no Jornal Diário de Guarapuava dia 27 de novembro de 2013 por ocasião da Campanha 16 dias de ativismo pelo fim da violência de gênero
Deparamos-nos com um importante momento para as organizações e movimentos sociais da cidade de Guarapuava. A Campanha “16 dias de ativismo pelo fim da violência de gênero” está na sua segunda edição e buscando promover reflexões sobre essa situação a partir de diferentes espaços. As ações estão sendo feitas pensando em relações de extrema violência ou pressão psicológica em que mulheres de cada faixa etária e classe social sofrem.

Um dos espaços em que são reproduzidas as violências de gênero é a escola. Mas, a escola não deveria ser o lugar em que ensinamos as crianças a viver em sociedade? Sim. Mas então, qual é o tipo de convivência em sociedade que estamos ensinando a elas?
A cidade de Guarapuava tem em sua base preconceitos arraigados que foram trazidos e reproduzidos pelos nossos “heróis” desbravadores.  Não é um simples fato do acaso que a nossa cidade é uma das 100 mais violentas contra as mulheres. O preconceito cultivado como relíquia dos coronéis foi transformando-se em uma forma de justificar todo tipo de violência praticada. E a escola teve o papel de repassar isso às novas gerações.
A prática de tratar a violência de gênero como natural acontece nos espaços escolares nem sempre de maneira que possamos ver. O incentivo a um comportamento “de menina” e outro comportamento “de menino” limita as crianças dentro de um padrão. Ou seja, se o menino resolver brincar com as meninas em uma casa de bonecas ele está saindo do “padrão de homem” que tentamos impor a ele. O mesmo acontece com as meninas que, ao se interessarem por futebol ou carros acabam sendo discriminadas por todas as pessoas da escola. Elas são consideradas fora do “modelo de mulher”.
Além das atividades cotidianas, os conteúdos ensinados na escola tentam moldar o comportamento das pessoas desde crianças. Todos esses elementos, no fundo, acabam ensinando que o homem deve ser competitivo, agressivo, deve sempre tomar a iniciativa, ser o forte, inteligente, dominante. E a mulher é ensinada a ser quieta, ficar somente em casa, ser emotiva, passional e dominada. Daí cria-se o entendimento de que a mulher é inferior ao homem em qualquer relação.
Essas interpretações das funções da mulher e do homem resultam em um tratamento natural das desigualdades de gênero.
Embora não seja possível transformar a sociedade somente pela escola é necessário ter consciência de que sua atuação não é neutra. Ela pode perpetuar as desigualdades seguindo o padrão patriarcal e coronelista ou pode tentar enfrentá-lo com uma das maiores armas que se pode dar a uma pessoa: o conhecimento.
Aline Cristina Schram
Militante do Movimento de Mulheres da Primavera e do Levante Popular da Juventude
Mestranda em Educação pela UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa)

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