terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Violência de gênero e movimentos sociais


*Artigo publicado no Jornal Diário de Guarapuava dia 05 de dezembro de 2013 por ocasião da Campanha 16 dias de ativismo pelo fim da violência de gênero

As conquistas de direitos das mulheres sempre foram permeadas por ações e mobilizações de movimentos sociais. Do 8 de março ao direito ao voto, até a criação da Secretaria da Mulher em Guarapuava, sempre houve mulheres que se organizaram para exigir melhores condições de vida e políticas públicas.Em 2011, na Romaria da Mulher, evento promovido anualmente pelo Movimento de Mulheres da Primavera, foi lançado um abaixo-assinado pela construção de creches em Guarapuava. Foram recolhidas mais de três mil assinaturas e o documento foi encaminhado aos governos estadual e federal. Em paralelo, a imprensa passou a noticiar a demanda por vagas e o Ministério Público pressionava o governo municipal para construção das creches. Passado um ano e meio dessa mobilização, o Movimento de Mulheres da Primavera recebeu um ofício do Ministério da Educação anunciando a construção de dez creches na cidade, as quais estão em andamento. O papel do movimento nesse episódio foi gritar aos quatro ventos que a cidade não garantia o direito da família ter um lugar seguro para seus filhos, enquanto os pais trabalham, pois todos precisam sustentar-se.No entanto, os movimentos por igualdade de gênero têm um desafio ainda maior. O sociólogo polonês Zygmunt Baumann questiona as “novas bandeiras” de gênero, raça, juventude e outras porque elas tendem a fragmentar e particularizar a luta. A luta das mulheres não pode estar limitada às questões de gênero, mas enquanto movimento social precisa estar comprometida com a transformação das condições degradantes de vida e no combate às injustiças. É um desafio enorme, pois nos últimos anos o capitalismo – explorador e individualista – tem avançado sobre todas as esferas e dimensões da vida.Os relacionamentos estão cada vez mais instáveis e distantes, a necessidade em exibir-se e parecer “alguém” diante dos outros é constante, a busca exagerada por atingir padrões de beleza e ainda o consumismo exacerbado são características de uma sociedade “líquido moderna” que promove a exclusão e oprime as pessoas. Tais relações nos tornam cada vez mais egoístas ao buscar apenas a satisfação e felicidade individual, o que pode afetar nas relações de gênero e ainda provocar a violência.Nós, enquanto movimento social, precisamos ampliar a nossa luta. Precisamos, além de ser feministas, buscar justiça social, lutar por um mundo que promova mais a solidariedade e menos a competição e o individualismo. Que rompa com a ganância e mire para um mundo igualitário.Priscila Schran de LimaContadora, acadêmica de Comunicação Social – Jornalismo na Unicentro e militante do Movimento de Mulheres da Primavera

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